sexta-feira, 29 de abril de 2011

Foucault

Não sou muito conhecedor de Michel Foucault. Ja li seu livro História da Loucura, estive com outros livros seus em mãos onde os li parcialmente, também li algumas biografias e notícias sobre o pensador francês. Hoje, lendo Microfísica do Poder, cheguei a percepção que  - admito, pode estar equivocada - Foucault reconhece os poderes paralelos, alternativos, ao poder centralizador do Estado. Eu disse que reconhece, não disse que acredita. Já no seu outro livro Vigiar e Punir, ele escreve citando Rush que "Só posso esperar que não esteja longe o tempo em que as forças, o pelourinho, o patíbulo, o chicote, a roda, serão considerados, na história dos suplícios, como as marcas das bárbaries dos séculos e dos países e como as provas da fraca influência da razão e da religião sobre o espírito humano.". Tenho um professor que sempre diz o seguinte: para se entender um autor é preciso que tenhamos estudado também sua vida. Bem, Foucault pelo que li a seu respeito, sempre se comportou de forma intransigente em relação a tudo que soasse como soberano, como única fonte, como instituído. Poderia se chegar a dizer que ele é um agitador. Na citação acima extraída do livro V.P, ele levanta uma crítica a religião e a razão, instituições da sociedade, chamando-as de fracas por não atingirem as sociedades totalmente, permitindo deste modo, que barbaridades como os suplícios ocorressem. Confesso que não entendo o que ele pensa sobre a função da instituição religião e instituição razão na sociedade, pois cobra certa participação e influência que nem mesmo o Estado, com as leis impostas consegue abarcar. Também ele parte deste mesmo método para dizer que o Estado não alcança todas as formas sociais, dando margem a intervenção de outros poderes no controle social. Se o Estado não alcança todas as formas sociais, não quer dizer necessariamente que ele não sirva como modelo de organização da sociedade. Hoje em dia, é cada vez mais difícil imaginarmos uma sociedade sem Estado. O próprio conceito de sociedade, se formos investigar mais aprofundamente, vamos descobrir que está intimamente ligado a idéia mesmo de Estado. Mesmo que o Estado como um todo não abarque estas sociedades que vivem à margem, mesmo que a Religião não consiga controlar perfeitamente uma época, mesmo que a Razão não seja necessariamente a única forma com que descobrimos o mundo e o transformamos, são as estruturas que temos de melhor, podemos até pensar em outras, mas arriscar estas em nome de outras mais duvidosas, pelo exemplo histórico, não é algo muito recomendável.
Bem, posso até mesmo ter falado um monte de bobagens aqui, arrisquei-me um pouco. No entanto, também pode ser que o que eu disse faz realmente algum sentido...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Metamorfose Ambulante

No texto http://mundointerrogado.blogspot.com/2011/04/questao-da-liberdade-em-sartre.html escrevi sobre a questão da liberdade em Sartre e então, como era necessário na ocasião, falei do devir e da Essência. Hoje então, estava ouvindo pela "enésima" vez a música do Raul Seixas, Metamorfose Ambulante, muito conhecida por sinal. Bem, acabei fazendo uma releitura dela, que tentarei reproduzir aqui. Raulzito mesmo, era um grande conhecedor dos textos filosóficos e religiosos. Pelo que acompanhei em algumas de suas entrevistas ele lia Schopenhauer, por exemplo. Também em outra faz menção a idéia de "eterna mudança" de Heráclito. E já que acabamos falando de Heráclito, aproveitaremos a "deixa" para agora falamos especificamente da música em questão.
A música Metamorfose Ambulante é uma música que fala principalmente de mudança, da nossa mudança. O Ser Humano, no seu devir, isto é, na construção de sua Essência, está em constante mudança, está sempre sendo Metamorfose Ambulante. Raulzito na música critica aquelas pessoas que ficam com "aquela velha opinião formada sobre tudo", e a isso opõe o indivíduo que hoje ama, e amanhã tem horror, hoje é amor, amanhã ator. Nessa perspectiva demonstra que é mais inteligente estar aberto a várias experiências, a várias interpretações do mundo, vários posicionamentos a respeito de si mesmo, a respeito das coisas, um em cada momento de nossas vidas. Diferente do que normalmente estamos acostumados a ouvir por aí, que é importante sustentarmos uma opinião até o fim, que precisamos ter objetivos e insistir neles por toda a vida, que precisamos ter um pouco de "coerência". Isto, para o filósofo Raul Seixas é "chatice". Até mesmo os filósofos mudavam suas idéias, vejamos Nietzsche que em um livro adorava o compositor alemão Richard Wagner e no outro o destruia. Que em um livro estreia "Schopenhauer como Educador" e em outro Schopenhauer já não servia mais. Podemos apontar essas transformações em quase todos os filósofos e pensadores e nem por isso deixaram de ser gênios, pois o que os faz assim é a própria irreverência de seus pensamentos, suas idéias e posicionamentos em cada situação. Ser Metamorfose Ambulante não é ser incoerente, pelo contrário até. Pior é estagnar, ficar sustentando sempre as mesmas coisas, e não abrir para as novas possibilidades. O mundo acaba por exigir isso, o conhecimento vai nos levando a outras margens, de forma que deixamos de habitar as margens onde antes construímos nossa casa. O que não pode é o indivíduo sustentar uma opinião sem qualquer embasamento, e tentar convencer sem ser pela razão, pela lógica. Mesmo que hoje logicamente estejamos certo em alguma coisa, é preciso reconhecer que amanhã isso pode já não fazer qualquer sentido, e isto porque não é uma questão de verdade ou não, mas de se estar certo em um determinado período, em uma época, de se estar com a idéia ajustada com o momento.
Sejamos metamorfoses raulseixistas então...

domingo, 24 de abril de 2011

Feriados, para que servem?

É só dar uma folgada na rotina e a imaginação e a criatividade afloram. Realmente, a rotina engessa! É preciso durante o dia à dia, buscar momentos "válvula de escape" onde poderemos exercer livremente a arte de escrever e pensar. No mundo moderno, tudo é muito mecânico, se cairmos nesse ritmo corremos o risco de nos tornarmos cada vez mais automatos. Os feriados são necessários, e em um país como o Brasil com tantos feriados e "pontos facultativos" seria uma boa se o pessoal começasse a aproveitar o ócio para fazer o que Domenico de Masi denominou por ócio criativo. Mas, em todo feriado, ou é praia, ou é viagem, ou é ficar em casa dormindo mesmo. Então o resultado é sempre o mesmo, acidentes de trânsito, doenças de pele, gastos excessivos, tédio e preguiça. Tudo bem, cada um faz o que quer, esta é que é a regra. Então, se alguém quizer apenas viajar, ou apenas ir para praia, ou ainda mais quizer só ficar em casa dormindo, fique à vontade, também não vai o mundo mudar por causa disso. Fica aí a sugestão para o próximo feriado, começa lendo um livro, mas escolhe algo bom, de qualidade mesmo. Já que falei, não custa citar, valendo lembrar que este é um livro mediano, mas já é um bom passo para um começo. Sugiro O Ócio Criativo, do Domenico de Masi.

A Questão da Liberdade em Sartre

       Uma vez, um amigo me perguntou o que era a Liberdade. Falávamos sobre Marx, Lênin, Stálin e Trotsky, e eu fiquei meio que sem saber ao certo o que lhe dizer. Sim, eu tinha plena noção do que seria a Liberdade, pois à época já era um estudante aficcionado pelo existencialismo sartreano. Mas, naquela ocasição eu não sabia reunir em um único conceito a idéia de Liberdade em Sartre. Acabei enrolando qualquer coisa, passando por idiota, e acabando por perder todo o debate. Hoje, eu saberia já conceituar a Liberdade, em sua forma mais aceitável e compreensível para mim? Vejamos:
       Bem, a Liberdade seria o que encontramos entre a Existência e a Essencia. Fácil? Parece matemática, não? Vamos esmiuçalhar um pouco mais esse conceito que elaborei a partir das leituras de Sartre. Bem, o que é a Existência e a Essencia em Sartre? A Essência seria aquilo que podemos captar, dos objetos por exemplo, isto é, o que representam para nós. O que faz com que uma mesa seja um mesa, por exemplo, quais características denotam sua qualidade de mesa. Nas coisas é possível identificar primeiro a Essencia, par depois chegar a Existência, isto é, ao ser-em-si. Com o Ser Humano acontece o inverso, primeiro ele Existe, é lançado no mundo, a partir daí ele se projeta e vai construindo sua Essência. Então o Homem é o que ainda não é, é este vir a ser, este devir. Veja que Machado de Assis não seria o escritor que foi se só tivesse nele a intenção de escrever os livros que escreveu, se não se concretizasse essa intenção. Entre este lançar no mundo e este projeto, existe a possibilidade da escolha. Até mesmo não escolher já constitui uma escolha. Por isso Satre dizia que o homem estava condenado a ser livre. Ao homem é dado então a Liberdade de transformação desse projeto, de execução e construção de sua Essência. Esta capacidade é que Satre identifica como Liberdade.

Stephen Hawking
        Vejamos que é natural que as pessoas questionem: mas e a doença, os acidentes, as fatalidades, aquilo que não escolhemos, como por exemplo o local onde nascemos, nossos pais, etc, onde ficam nesse sistema? Bem, não se espera que um pensador como Sartre ignore isso, ele reconhecia a existência do acaso, e a isso dava o nome de Facticidade. Agora, o que muda é que mesmo sobre esta Facticidade podemos agir. A Facticidade existe, agora o que ela representa para mim, sou eu que escolho. Nesse caso, novamente o homem volta a sua Liberdade, aquela entre a Existência e a Essência. Por isso, por exemplo, um indivíduo como Stephen Hawking que deveria desistir de viver, acaba por ser o maior fícico de nossa época. Pois mesmo com uma doença degenerativa, ele consegue dar a volta por cima, em outras palavras, é o que ele fez com o que foi feito dele.
       Espero que tenha conseguido esclarecer algo com este ensaio sintético.

sábado, 23 de abril de 2011

A Velhice

Hoje fui visitar meus avós maternos (nona e nono). Confesso que aprendi algumas lições sobre a velhice e também sobre a doença, mais do que pude aproveitar durante todo o curso na faculdade. Essa visita acabou por resgatar um pouco do  próprio "eu" que estava perdido, em algum lugar do passado. Os meus avós além de muito religiosos tiveram uma vida muito dura, criaram dez filhos em meio as dificuldades da época, e ainda por cima morando longe de qualquer centro urbano por menor que fosse. A casa deles é a penúltima na estrada que mais parece uma passagem para o carro de boi, as outras casas ficam a kilometros de distância. Fico imaginando ao olhar para aqueles morros cheios de mato e bugios, como era cuidar dos filhos, manter as lavouras, os animais de criação, a casa, a saúde das crianças e tudo o mais que é preciso para se viver em um lugar como o deles. Muito menos do que precisamos para viver na cidade por exemplo. Apesar de toda a dificuldade criaram muito bem os dez filhos, e hoje ainda não se renderam aos confortos da vida moderna. Sua casa ainda é rústica, não possuem telefone, muito menos internet. O banheiro e chuveiro estão instalados na parte externa da casa. Quem disse que tomar banho e sair na rua faz mal para saúde? Meus avós estão com 83 anos de idade, vivendo com pouco, comendo muita polenta, queijo, salame, verduras e frutas que extraem da própria terra que cultivam, das vacas e porcos que criam.
Espantei-me com a lucidez de minha avó, é possível conversar com ela normalmente. Ela tem uma memória muito boa, e surpreendentemente conhece assuntos da vida moderna. Ainda é uma leitora assídua! Está doente é certo, mas sua doença é apenas física. Não digo que ela não sofra com a doença, mas parece saber tão bem driblar isso. Senti-me pequenino ao lado dela, eu a respeito muito. Meu avô é saúde pura, vigoroso, lúcido, atento! Ainda conserva os braços fortes para mexer a polenta no tacho sobre o fogão à lenha. Quanto aprendizado!
Bem, depois desse resgate do meu "eu", ter ido novamente até as origens, ter visto o que passaram meus avós e minha mãe no enfrentamento das condições rudes, sinto-me renovado para continuar a levar minha vida, e mais ainda por estar pisando sobre o caminho justo. De qualquer modo, é preciso concluir, a velhice me surpreende e comove mais que a juventude.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Giordano Bruno

O Professor de Filosofia do Direito propôs o seguinte:

"Apresente um comentário ao conceito de 'instituição' em Giordano Bruno"

Ao qual desenvolvi este texto:

 Para o Frei Giordano Bruno (Nola, 1548 - 1600)* as instituições representavam estruturas de poder que deveriam ser combatidas, por impetrar o pensamento e as ações dos homens. Sua luta contra estas instituições culminou em sua morte, depois de julgado e sentenciado a ser queimado vivo junto com sua obra pelo Tribunal da Inquisão. Provém daí o fato de suas obras terem desaparecido, por serem queimadas concomitantemente a sua pessoa. Mas seu pensamento prevaleceu por entre os séculos, e vai nos encontrar nas aulas de Filosofia do Direito do professor Célio.

       Bem, a importância do pensamento de Giordano Bruno, para os alunos do curso de Direito, talvez se dê pelo fato de que o "questionar", ou seja, a visão "crítica" no Direito, ser para os representantes desse, fundamental na construção de um modelo de justiça mais adequado à sociedade.  Assim como Giordano Bruno apontava as falhas em um sistema que dominava a vida nos Séc. XIII (Idade Média), que desferia seu poder (Igreja Católica) contra aqueles que se levantassem contra esse sistema, ou mesmo contra o que representava a verdade para seus titulares, nós, enquanto representantes do Direito também teríamos a "obrigação", por assim dizer, de nos atirarmos no propósito árduo de mudar o sistema jurídico, que também possuí - não muito longe do que era o modelo da Igreja à época de Giordano Bruno - suas falhas, seu status quo, o seu domínio, sua inadequação, sua ineficiência. Existe todo um ritual, uma espécie mesmo de corporativismo que impede qualquer ente que provenha de baixo de estar se precipitando contra este regime, de modo a manter a ostentação daqueles que estão em seu poder. Uma empreitada deste tipo não seria isenta de riscos, talvez não tão cruéis quanto os enfrentados por Giordano Bruno, mas também devastadores.

       Hoje, seria difícil imaginarmos que alguém poderia ser queimado vivo por sustentar suas idéias, mas a reclusão, o veto, a represália são atos que ainda encontrar sua prática nos dias atuais, sempre que alguém procura desferir críticas as instituições - ainda objetos de poder que abriga tipos não merecedores de seus proventos. O caminho, creio eu, não seria uma luta ideológica e por isso desgastante, teimosa e por isso maçante; de igual modo também não seria o da Revolução, pelo risco já conhecido de provocar a morte de inocentes, e acabar no mesmo ponto em que se partiu. Se formos observar os modelos revolucionários do século XVIII, por exemplo, vamos encontrar um grupo de insurgentes se revoltando contra certos poderes, que depois de conquistado tais poderes, tornam-se tão piores quanto àqueles aos quais se insurgiram. O caminho, talvez o encontraremos, depois de um sólido conhecimento, proporcionado pelo ensino acadêmico e ainda pelos esforços individuais de cada um, ir desvendando os viés da prática, e aplicando aqui e ali métodos ortodoxos dentro do próprio sistema, que possam assim despertar o olhar alheio para as inconsistências do nosso sistema jurídico, para suas possibilidades, provocando uma necessidade de revisitação aos seus primórdios para a construção de uma interface futura mais direcionada para a causa social, e por isso até mesmo mais justa. Não tenho a intenção de propor uma mudança total, em todo sistema, pois na falta deste não imagino que outro se adequaria melhor, e com menores riscos à sociedade. Mas algumas arestas deste sistema precisam é certo serem podadas, alguns ajustes é correto, precisam ser realizados, ou estaremos apenas sustentando o status quo de alguns e deixando a injustiça, o desrespeito e a injúria tomar conta.

Texto desenvolvido a partir das aulas de Filosofia do Direito e conhecimentos e idéias prévias do autor.


*data de nascimento e morte de Giordano Bruno extraído da Wikipédia.