sexta-feira, 12 de agosto de 2011

          Existe todo um campo dos possíveis inexplorados em cada situação, em cada momento. Existe toda uma vida que não se decidi, que decidi e não volta atrás, que decidi e volta, e também que não encontra sustentáculo neste que a desperta. Existem muitos caminhos que não foram, nem nunca serão percorridos. Existem assim, tantos possíveis que vão se tornando impossíveis por mera imprudência, tantos barcos naufragados sem nunca terem estado no mar.

"(...)
qual foi a vida que houve nisto?
O que foi isto a vida?
(...)"
(A. C., por Fernando Pessoa)

          Se há tantas dúvidas, tantas chances de ser e simultaneamente apenas uma, o que posso eu, mero templo arruinado, pedaço de terra que nunca ninguém descobriu, quem dirá então chegado um dia a percorrer, diante de tanta confusão? Escolho um caminho e nele invisto todo o meu ser, mesmo que seja um caminho que não leve a nada, mesmo que leve a outra encruzilhada, e a outra, e outra sucessivamente? Tento aproveitar todos os caminhos? Mas é tão impossível quanto percorrer apenas um...Ora, palavras sábias, a consciência tensa relaxa ao ouví-las

"(...)
Deixe-me ser uma folha de árvore, tilitada pela brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado nas estradas pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E estremece, no mesmo movimento que o da terra,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino."
(Álvaro de Campos, por Fernando Pessoa, em Apostila - 11/04/1928)

         No mesmo intuito, sem desmerecer Fernando Pessoa, é claro, "deixe rolar"...