quarta-feira, 9 de abril de 2014

Parede de Esmalte

Nessa insone madrugada,
Negra como o café que despejo cuidadosamente na xícara às seis da manhã
sem aqueles glóbulos translúcidos na orla do líquido em contato com a parede interna de esmalte, é claro!
Percebi, sem querer perceber, a minha vida afundando
Numa barquinha ingênua conduzida por um espírito covarde, bêbado, tresloucado
Afundando, afundando, afundando...
Como se resolve-se todos o problemas do mundo, do universo, da consciência e filosofias, e metafísicas e tudo
no simples ato de afundar.
Por que tudo pode poder parecer alguma coisa que não aquilo mesmo que parece?
Que há mais vida nas coisas que não são vivas, do que nesse ser: inerte, humano, terrestre...
capaz de viver num quantum de luz.
Ser obsoleto, futurista, nos três tempos, na morte.
Por que morrer, se já não tens onde ir?
Por que constranger-se por estar entre gente se nunca estivesse em parte alguma, oh, nascido do vácuo?
E não há gente, há apenas excesso.
Com efeito, todo excesso para mim é falta e toda falta solução.
Toda noite para mim é dia e na madrugada o verme rasteja em páginas amarelas
deixando apenas o rastro cintilante de uma coisa que não é nem talento nem brandura, nem mesmo desejo de ser, quanto mais o ser verme triste caótico.
Às seis da manhã começou a chover

Insipidez do Tempo

Insipidez do Tempo

Tempo que passas
Velho escasso!
Lembro-me no Paço
Onde podíamos contemplar.
Na hora vespertina,
Embaixo daquela árvore...
Será que te recordas?
A memória com o tempo atrofia;
E é certo que não temos mais tempo
Então, como lembrarás?
Não nos entristeçamos por isso;
Novos caminhos há de serem trilhados.
E você estará lá do lado de lá.
Se ao menos tivesse notícia sem ciúme!
Se ao menos pudesse conservar um pouco
Desse tão pouco que foi muito!
Mas não, não, não.
A vida é deixada aos pedaços,
Na morte as feridas cicatrizam
E de nós nada fica senão cansaços.
Cansaços de tentar vencer o invencível,
De tentar levar para casa o cinzeiro do bar
E ficar sempre sem ter onde depositar a cinza
Essas cinzas sem horas.

Versos Insones

Versos Insones

Torpor, insone madrugada:
O teu silêncio me salva!
E a mente ressalva,
Essa folha untada

De versos que nada são
Pelo absurdo de dizerem,
Que a morte se temerem,
Além das linhas restarão

Nessa tumba que é o crepúsculo;
Que me paralisa o músculo
Desejoso de escrever...

O
lho o céu e me espanto;
Fecho os olhos num amargo pranto,
Do medo de (não) ver...


Jailson Marangoni

Fevereiro 2006